Quem sou eu

Minha foto
Jornalista, fundador e editor do Jornal do Mosqueiro, atualmente preside a AJORMAP - Associação dos Jornais e Mídias Alternativas do Estado do Para.

sexta-feira, março 22

Ex-Governador Aurélio do Carmo: Na íntegra o seu discurso

Ei-lo: “Excelentíssimo Sr. Deputado Márcio Miranda, presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Pará; Excelentíssimos Senhoras e Senhores deputados; Excelentíssimas autoridades presentes ou representadas; Colegas desembargadores, colegas advogados, irmãos maçons, Familiares, amigos e companheiros que me honram com o prestígio da presença a este momento único; Minhas senhoras e meus senhores, Nos anos que antecederam a era de Cristo, o poeta romano Horácio legou à posteridade a expressão “Carpe Diem”. Sublinhou em seu famoso poema Odes a importância de se viver intensamente um momento de vida, porquanto a fugacidade do tempo e da vida talvez não permitisse que algum momento pudesse ser repetido, privando seus personagens de saborear o momento que passou. Recorro a essa imagem quando a Graça Divina me permite viver um momento que incorpora reposição da justiça e ganha a conotação especialíssima de um momento a ser vivido. Quase meio século separa a conquista do mandato de governador do meu Estado pelo voto de 70% do eleitorado paraense, mandato outorgado pela legitimidade democrática das urnas, mas usurpado pela força autoritária das armas. Este ato e este momento, não se restringem ao elevado e histórico simbolismo de que se reveste. Este ato inscreve na história do Pará uma das páginas mais gloriosas que se poderiam inserir na vida de um povo e na força dos princípios que fundamentam o Estado Democrático de Direito. Quis a proteção Divina que eu vivesse esses 91 anos para experimentar as pobrezas e riquezas que permeiam os sentimentos humanos. Poucas homenagens seriam tão gratificantes e reparadoras como esta, em que volto ao seio do mesmo Poder Legislativo que naquele glorioso dia 31 de janeiro de 1961, exatamente quando eu completava 39 anos de existência, cumpria sua excelsa função constitucional na formalização da vitória eleitoral com que o valoroso povo paraense me consagrou. São momento assim e homenagens dessa natureza que justificam a razão de viver. São momentos assim que nos fazem legar ao desprezo eventuais decepções e novos motivos e novas forças para superar dificuldades e descortinar horizontes mais claros para momentos como este, ao sermos nós e as nossas circunstâncias da conceituação filosófica de Ortega y Gasset. Ou, como disse Winston Churchill, cultivando o otimismo na transformação de dificuldades em novas motivações para que se continue existindo. Ainda hoje, passados 50 anos, é gratificante ver frutificarem algumas das sementes que plantei no curto período em que me foi permitido exercer a vontade popular delegada pelo voto. Foi em meu governo a semeadura de onde medrou a pujança econômica da província mineral de Carajás, cuja descoberta e revelação do potencial resultaram das primeiras pesquisas e a projeção da BELCAN procedidas em meu mandato. Era um complexo para a exploração e transporte da matéria prima até a grande siderurgia que seria construída em Paragominas, iniciativa interrompida pela cassação, levando de volta os técnicos alemães que lá já se encontravam, empenhados nos procedimentos iniciais do que poderia vir a ser a maior obra do meu governo, complementada pelo programa de colonização no sul e sudeste do Pará, iniciativas responsáveis por alavancar nos dias atuais o desenvolvimento socioeconômico do Estado. Também foi na minha gestão a interiorização do ensino médio público estadual, com o funcionamento dos primeiros ginásios escolares nos municípios de Castanhal e Santarém, denominados Lameira Bittencourt e Álvaro Adolfo. Poderia elencar outras tantas e significativas ações projetadas para proporcionar um futuro promissor ao nosso povo, paradoxalmente tão pobre num Estado tão rico. Vale citar, como exemplo vivo e operante dessa preocupação, a criação pelo meu governo do Banco do Estado do Pará, depois transformado em BANPARÁ, com o objetivo fundamental de estimular e fortalecer o comércio, a indústria e apoiar o crescimento de nossa base produtiva, e assim, sedimentar o desenvolvimento sustentável da economia paraense e seus benéficos reflexos sociais. Mas, não transformarei em fonte de lamentações este novo momento especial, da mesma forma como jamais me permitiria recriminar pessoas e razões que protagonizaram aquele doloroso episódio de 1964. Minha formação cristã e meu permanente exercício de compreensão com os atos da humanidade me conduzem ao passado apenas como referência histórica, indispensável a que se entendam as voltas que a vida dá. Contudo, a vida me tem contemplado com muitos bons momentos que me têm sido dados a viver, coroando o carinho de amigos de ontem, de hoje e de sempre, permitindo que renovasse permanentemente as forças para superar as dificuldades e fortalecesse a crença na força da proteção Divina. São momentos que poderia sintetizar nos eventos que têm marcado os tempos recentes de minha vida pública. Tais momentos podem ser simbolizados pela honra reparadora civil e moral que me foi conferida ao ser nomeado pelo ilustre governador Jader Barbalho para o Tribunal de Justiça do Estado, ocupando vaga oriunda do Quinto Constitucional da OAB. Exerci o desembargo com a aplicação inerente à magistratura, dignificando à minha classe de advogados, a confiança da sociedade e o espírito público que sempre presidiram meus atos e funções que me foram dadas a desempenhar. Hoje, me vejo privilegiado por desfrutar deste novo e grande momento que me é dado a viver, em que Vossas Excelências, no pleno uso da legitimidade dos mandatos que somente a democracia tem o poder de outorgar, promovem a reparação das reparações que poderia obter, resgatando o diploma e a faixa de Governador Constitucional do Estado do Pará, usurpados numa fase que enegrece a história do nosso País. Por oportuno e dever de reconhecimento, reverencio a memória de minhas pranteadas e sempre bem lembrada mãe, D. Josefina Corrêa do Carmo; meu irmão, Jesus do Carmo; minha esposa, Maria de Lourdes; e minha sobrinha, Maria Raimunda Teixeira de Azevedo, que me ajudaram a viver os difíceis momentos vividos naquela época, e aos fiéis amigos que evito nominar para evitar o risco de alguma omissão imperdoável. Agradeço à Assembleia Legislativa do meu Estado por ter acolhido a iniciativa, inspirada em decisão da Câmara dos Deputados, na devolução simbólica dos mandatos de parlamentares federais cassados. Agradeço em especial ao conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, Nelson Chaves, pela iniciativa fruto de seu generoso coração, pelo movimento restaurador da hora que vivemos. Agradeço aos amigos e instituições que entenderam e abraçaram a importância e oportunidade histórica deste resgate, em excepcional exemplo democrático que mais uma vez o Pará transmite ao Brasil. Permitam-me dividir este momento de rara felicidade e forte reparação histórica a colegas como Newton Miranda, meu companheiro de chapa como vice governador, Moura Carvalho, Isaac Soares, Hélio Gueiros, meu líder na Assembleia Legislativa, Benedito Monteiro, Laércio Barbalho, Amílcar Moreira, também eleitos democraticamente e que tiveram, igualmente cassados seus mandatos populares. Rendo homenagem particular ao meu colega desembargador Otávio Marcelino Maciel, em solidariedade pela violência ditatorial de que também foi vítima. Rememoro ainda, com saudade e respeito, meus secretários de Estado Henry Kayath, Efraim Bentes, Evandro do Carmo, Antônio Lobo, Reis Ferreira, José Maria Mendes Pereira e Irineu Lobato, que foram presos e tiveram seus lares invadidos, sofrendo o constrangimento de uma prisão arbitrária e injustificada. Consola a consciência de que a justiça celestial seguirá aclamando para que tenhamos perdoado as nossas ofensas, assim como perdoaremos aqueles que nos tenham ofendido. Que Deus nos abençoe e proteja. Que Deus não permita que o nosso País venha a sofrer, em tempo algum, por quem quer que seja, qualquer tipo de agressão aos princípios democráticos, perseverando no respeito aos fundamentos da Democracia proclamada nas praças de Atenas. E que os brasileiros possam continuar a viver a eternização dos momentos em que somente a eles compete eleger seus mandatários e, assim, decidir livremente pelo voto os seus próprios destinos, consagrados nos estritos preceitos constitucionais de que o Poder emana do povo para em seu nome ser exercido. Muito Obrigado!”

Nenhum comentário:

Postar um comentário